Para Branca, o que mais a atraía, era aquele olhar com ares de francês, talvez filho de estrangeiros. Era de uma sensualidade incrível, charme irresistível, alto, sotaque quase imperceptível. Mas, o que a encabulava de tal maneira era, que aquele olhar passeava seu corpo dos pés a cabeça quando passava, o que a deixava revitalizada.
Atraso
Era um dia típico, muito trabalho, demais para uma pessoa só em seis horas. Branca acabou indo embora sem almoçar, não tinha dinheiro para nada, andando cansada em direção ao metrô, lábios brancos, pele sem vida e, do outro lado, Renatto se aproximava, vinha com sua bolsa de fotógrafo e uma sacola azul.
Cumprimentaram-se e ele lhe deu uma p~era, ela mordeu-a, na sua frente, Renatto viu aqueles lábios, de botões, virarem uma grande rosa vermelha e, a pele de Branca corou, o vento levava seus cabelos, o sol que se punha, fazia brilhar seus olhos, o universo não se atrevia a interromper tamanho esplendor. Conversaram, Renatto deu-lhe um cartão, ele mantinha um site com seus trabalhos, fotos fantásticas, ângulos e imagens captadas por um mestre.
Ela as viu, adorou.
Mira
Nas reuniões que Renatto trabalhava, Branca sempre dava um jeito e passava perto dele, espalhava teu perfume e mechia os cabelos longos, puro charme de mulher.
Quando Renatto aproximava-se, Branca sem olhar já o reconhecia, puramente amadeirado, toques de ervas talvez. No meio da reunião, Renatto tirava fotos suas, discretas, despercebidas, outras quando Branca via, fazia poses, ria, pecava aos flashes.
Beleza rara
Quando tiveram o primeiro encontro sozinhos, Renatto afirmara; Branca tinha uma pele que mais parecia pérola, seus olhos eram tão marcantes que Renatto sentia-se devorado e perdido naquela imensidão castanha. Curvas perfeitas como dunas de areia, cabelos macios, ondulados. Boca pequena que inchava e avermelhava a cada toque do amante perfeito.
A câmera de Renatto, ambiciosa, tentava roubar para si aquela beleza fria e indiscutível. Deitava, rolava, brincava com os lençóis, os cabelos que roubava a cena caindo no rosto.
Renatto via, naquele corpo de vinte e poucos anos, o veneno que chama e quer. Branca se tornou a musa, era sua paixão de perdição, aquele sorriso de libertinagem, aquele ar sério. Branca sabia ser todas, todas as mulheres que toda mulher tem que ter pra si, a séria, a extrovertida, a doce, a pecadora. Era um anjo e um demônio, mas, que ninguém nunca saiba.
No trabalho, na família, para os amigos e a sociedade, Renatto achara sua musa, Branca maravilhou-se e aproveitou de seu doce deleite. Flashes furtados, os olhos que não se perdiam, o seu enrubescimento diante das situações adversas, as frutas que mordia, tudo alimentava seus desejos.
Finito
Até quando Renatto foi para Paris, Branca não se abalou, desapegaram-se, estavam saciados depois de uma obra de arte que foi a paixão dos dois, uma relação de total liberdade pessoal.
Os anos passaram, Branca casou-se, teve duas lindas filhas, três lindas netas, nem os anos abalara aquele charme que a elevava e morreu, com a glória dos anos que viveram e assumira.
Depois do velório, sozinho, Renatto deixara flores vermelhas e um retrato de cinquenta anos atrás. Branca, nua entre os lençóis, risonha.