"Ei, você, gosta de poesias?"
O nome dele é Antônio Luiz Júnior, cabelos brancos e compridos, barba branca até o início do pescoço e bigode, na faixa de uns 55 a 60 anos; levava consigo vários folhetos e uma bolsa preta que parecía estar um pouco vazia, sua blusa branca de tecido confortável, sapatos gastos e calça escura e esgarçada dava-lhe ares de uma humildade transpassada.
"Sim"
Ele me acenou e fuiem direção a ele, os folhetos de umas 8 páginas cada eram poesias, um artista sem chance, afinal era um homem com dons artísticono mundo dos negócios. Contei a ele que também escrevia e ele me deu seu e-mail, anotei e comprei um de seus livros, cinco reais, talvez fosse o único dinheiro que conseguira naquela tarde chuvosa e vazia.
Quanto ao e-mail, perdi o papel, mas voltei pra casa lendo seu livrinho, molhada com o presente que fui encontrar só na República.
Não voltei mais àquela galeria, até porque não lembro mais o caminho, as poesias são boas e na contra capa um agradecimento:
"Ao público do MASP Espaço Unibanco do Cinema Teatro Augusta."
Realmente não sei se estava neste lugar mesmo, ele parecía ser nômade e como disse a chuva estava forte, embaçando tudo.
Quero homenageá-lo pela coragem e persistência, que não sabemos de sua história, e estava ali, naquela tarde vazia e molhada, vivendo dos sentimentos que escreve de um amor que não teve.
"Então eu estou aqui
e você também
me permita ser o seu espelho esta noite
e cantar em mim o teu encanto
tua estranheza e teu espanto
como quem sabe no fundo
que não há distância neste mundo
pois somos uma só alma
me permita ser esta noite
a voz que te encanta e se encanta de ti
que te faz sentir e parar
como quem volta pra casa
e resolve se amar."
Do livro "Poemas Inéditos por Antônio Luiz Júnior"