Manuela, 19 anos, mora em S Paulo, longe dos principais agitos da cidade. Coleciona atualmente pequenos cupons, entradas e objetos que a remete a alguma lembrança. Ouve Smashing Pumpkins, Adele, MPBs Alternativos. Acorda as 5h30, prefere tomar longo banho e se arrumar melhor e tomar o café no ônibus, embrulhado num papel de pão. É a primeira a chegar no trabalho e a última a sair. Rega as plantas e sente vontade de jogar algumas fora. Xinga caminhoneiros que buzinam e tem medo de pontes, medo de atropelamentos, medo de razantes de helicópteros, medo de helicópteros, medo de ursos grandes de natal pendurados em cabos de aço de shoppings, medo de shoppings. Constantemente Manuela tem sentimentos aleatórios, rápidos e voláteis. Sente-se abatida e violentada por idéias forçadas e malucas. Não esqueceu dos seus amigos, só não consegue vê-los. Sente uma vergonha de estar nua em público com certos pensamentos. Ela faz isso para temperar a vida fatídica.
Manuela ainda prefere verde, bege, marrom. Usa Essencial, Oxford; sente falta dos tempos de Organza. Bebe Stella, Heineken, em público ou acompanhada.
Manuela sai cedo, vai pro trabalho, almoça, volta do trabalho, janta, conversa com a mãe, beija o pai, ama a mãe, ama o pai, beija a vó, ama a vó. Toma banho, deita, os pés doem, doem de duros pelos sapatos ruins. Passa pomada e calça meias. Manuela tem olheiras, engordou um pouco e perdeu roupas.
Manuela, burra como uma porta, fútil como uma barbie. Quer só uma colher, uma colher bem grande, pra mexer o açúcar que está no fundo.