segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Manuela T. Wilde

Manuela, 19 anos, mora em S Paulo, longe dos principais agitos da cidade. Coleciona atualmente pequenos cupons, entradas e objetos que a remete a alguma lembrança. Ouve Smashing Pumpkins, Adele, MPBs Alternativos. Acorda as 5h30, prefere tomar longo banho e se arrumar melhor e tomar o café no ônibus, embrulhado num papel de pão. É a primeira a chegar no trabalho e a última a sair. Rega as plantas e sente vontade de jogar algumas fora. Xinga caminhoneiros que buzinam e tem medo de pontes, medo de atropelamentos, medo de razantes de helicópteros, medo de helicópteros, medo de ursos grandes de natal pendurados em cabos de aço de shoppings, medo de shoppings. Constantemente Manuela tem sentimentos aleatórios, rápidos e voláteis. Sente-se abatida e violentada por idéias forçadas e malucas. Não esqueceu dos seus amigos, só não consegue vê-los. Sente uma vergonha de estar nua em público com certos pensamentos. Ela faz isso para temperar a vida fatídica.
Manuela ainda prefere verde, bege, marrom. Usa Essencial, Oxford; sente falta dos tempos de Organza. Bebe Stella, Heineken, em público ou acompanhada.
Manuela sai cedo, vai pro trabalho, almoça, volta do trabalho, janta, conversa com a mãe, beija o pai, ama a mãe, ama o pai, beija a vó, ama a vó. Toma banho, deita, os pés doem, doem de duros pelos sapatos ruins. Passa pomada e calça meias. Manuela tem olheiras, engordou um pouco e perdeu roupas.
Manuela, burra como uma porta, fútil como uma barbie. Quer só uma colher, uma colher bem grande, pra mexer o açúcar que está no fundo.

sábado, 15 de outubro de 2011

Conto Erótico



- Às suas ordens.
- Que-quem é?
- Às suas ordens.
- Acho que apertei o botão errado. Ainda não me acostumei com o painel deste novo sistema. Como é que eu faço para conseguir uma linha direta?
- Linha direta: Comprima o botão vermelho no canto direito inferior do painel. Aguarde. Se não der sinal de linha, comprima o marrom, depois o vermelho novamente. Repita a operação até conseguir a linha. Obrigado, senhorita... De nada. Desligo.
- Escute!
- Às suas ordens.
- Olhe. Por favor, não pense que eu estou sendo indiscreto, mas é que eu não reconheci a sua voz. Você é nova no escritório? Alô?
- Às suas ordens.
- Eu só queria esta informação...
- Informação: Comprima o "zero" no painel. Aguarde. Quando ouvir o sinal eletrônico, declare a informação desejada. Fale pausadamente.
- Não, não. Eu só queria saber... Em primeiro lugar, o que é que você está fazendo aqui esta hora? Todo mundo já foi pra casa. Já sei, é seu primeiro dia, você ainda está desambientada. Mas não precisa exagerar. Ninguém me disse que iam contratar uma nova telefonista. Aliás, me disseram que com este novo sistema, não precisava telefonista. Você não me responde?
- Às suas ordens.
- Só me diga seu nome. Olhe, não sei o que lhe disseram a meu respeito, mas eu não sou um patrão duro, não. Só fico até esta hora no escritório porque, francamente, este é o lugar onde me sinto melhor. Minha mulher nem fala mais comigo. Me sinto muito melhor aqui, na minha mesa, na minha poltrona giratória, as minhas coisas, agora este novo telefone... Entendeu? Não sei porque estou contando isso pra você. Ah é pra você não ter medo de conversar comigo. Sou absolutamente inofensivo. As funcionárias deste escritório, pra mim, fazem parte da mobília, entende? Jamais faltei com respeito com nenhuma delas. Aliás, jamais faltei com respeito com mulher nenhuma viu? Você não tem nada pra me dizer?
- Não há mensagens.
- O quê?
- Às suas ordens.
- Mas eu sou um animal. Você é uma gravação! Agora entendi. E eu aqui falando sozinho... Mas sabe que você tem uma voz linda?
- Às suas ordens.
- Quero fazer amor com você. Agora. Aqui. Em cima da mesa. Com a sua cabeça atirada pra trás, por cima do calendário eletrônico. Com o jogo de canetas de acrílico espetando as suas costas. E você rindo, selvagemente, de prazer e de dor. Depois rolaremos pelo carpete como dois loucos. Como duas feras. Derrubaremos a mesa do café.
- Café: comprima o botão rosa.
- ahn. Diz de novo. Comprima o botão rosa. Diz. Café.
- Café: comprima o botão rosa.
- Quero passar o resto da minha vida ouvindo a sua voz e comprimindo o seu botão rosa. Nunca mais preciso sair do escritório. Só nós dois. Quero fazer tudo com você. Tudo! Você deixa?
- Às suas ordens.

Luís Fernando Veríssimo

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Pouca Vogal

" Amanhã, talvez
esse vendaval faça algum sentido
dá pra se dizer
Qualquer coisa sobre todo mundo...
Amanhã, talvez
Esse temporal saia do caminho
dá pra se escrever
o papel aceita toda e qualquer coisa..."

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A Bola

A bola rola
A bola rola o mundo todo
E o mundo roda

E a volta do mundo gira
Gira e volta, volta e meia
e em meia-hora
meu café estará pronto

O mundo, só lá fora,
esperando a minha bola rolar
A bola que me faz mudar
mudar de volta, de vida

E a volta
Vida no fim, volta que já foi
Volta! Por que não volta?
Porque é bola e bola rola

Porque bola é tempo.
Tempo que não pára
Tempo que não volta
E se tem medo

Medo de dar com a parede
e a bola parar
Mas, se bola pára,
já não é bola

E a bola foi feita,
só pra rolar...

A menina Semquerer

A menina Semquerer
é aquela que eu nem quero ver
Me larga! Que angústia
de ser uma Semquerer

O que ela quer afinal?
Aconteceu e ela disse "foi mal" ?!
Foi péssimo Semquerer!
Péssimo como você!

És a criatura mais feia
Menina mais cruel e suja
Amiguinha dos capetinhas do mundo

A Semquerer é fofoqueira
Uma cocota mal criada!
Abandonada e maltrapilha

A Semquerer ninguém quer
Ela traz azar!
Ela não traz felicidade
Deve ser mal da idade...

Lorota!
A Semquerer é má de verdade!
De mentira
E identidade...